Dia da Segurança no Computador: Cuidar do Nosso Eu Digital
- Tomás Batalha Reis
- 30 de nov.
- 2 min de leitura
Em tempos, a ficção científica imaginava um futuro repleto de ciborgues, humanos com membros robóticos, olhos sintéticos e implantes digitais. Imaginávamos o brilho do metal e dos circuitos, um futuro onde a linha entre o humano e a máquina se misturava de uma forma fascinante e futurista.
Mas esse futuro já chegou, apenas não da forma que Hollywood prometeu.
Podemos não ter braços metálicos ou chips neuronais (ainda), mas os nossos telemóveis, tablets e computadores tornaram-se, silenciosamente, extensões de nós próprios. Guardam as nossas memórias, mediam as nossas relações, organizam o nosso trabalho e até moldam a forma como pensamos. Em termos psicológicos, funcionam quase como um órgão externo, um cérebro auxiliar que contém partes da nossa identidade e do nosso funcionamento diário.
O Órgão Invisível
Quando um dos nossos dispositivos avaria, é perdido ou comprometido, a reação é muitas vezes mais do que simples incómodo, é visceral. Surge a ansiedade, a confusão, por vezes até um sentimento de perda. Isto não é apenas uma questão de dependência, mas um reflexo de integração. Os nossos dispositivos tornaram-se parte dos nossos sistemas cognitivos e emocionais.
Se o nosso corpo é uma rede de órgãos que trabalham em equilíbrio, este nosso “órgão digital” faz agora parte dessa rede. E, tal como investimos em seguros de saúde, exercício físico, dieta completa e consultas médicas para proteger o corpo, devemos investir também em saúde digital, manter os dispositivos atualizados, usar palavras-passe seguras, fazer cópias de segurança e estar atentos a ameaças online.
Um vírus informático pode não causar febre, mas pode comprometer a nossa privacidade, relações e bem-estar emocional. O dano é real, mesmo que aconteça através de ecrãs.
A Psicologia da Saúde Digital
A segurança digital não se resume a antivírus e firewalls; envolve também limites. Os mesmos dispositivos que nos conectam e completam podem, se não tivermos cuidado, começar a consumir-nos. As notificações corroem a nossa atenção, as redes sociais distorcem a autoimagem e a conectividade constante pode tornar o descanso quase impossível.
Proteger os nossos “órgãos digitais” tem, portanto, duas dimensões: o cuidado técnico, manter os sistemas seguros e funcionais; e o cuidado psicológico, saber quando desconectar, descansar e questionar a nossa relação com a tecnologia.
Tal como aprendemos a ouvir os sinais do corpo, como fome, cansaço, dor, devemos também aprender a ouvir os sinais de fadiga digital: irritabilidade, necessidade compulsiva de verificar o telemóvel, dificuldade em concentrar-se, ou a sensação de estar “ligado” mesmo em momentos de pausa. Estes são sinais de que a nossa saúde digital precisa de atenção.
Tornar-nos Ciborgues Conscientes
Já somos ciborgues, humanos estendidos, melhorados até, através da tecnologia. A diferença é que as nossas extensões não estão fundidas à pele, mas sim à atenção e à identidade. E isso dá-nos uma escolha: usar a tecnologia de forma consciente, ou deixá-la, silenciosamente, tomar controlo.
Por isso, neste dia da segurança no computador, pense não só na segurança dos seus dispositivos, mas também na sua relação com eles. Atualize o seu software, sim, mas atualize também os seus hábitos. Proteja as suas palavras-passe, e proteja a sua paz.
Porque, ao final de contas, cuidar da sua saúde digital é apenas mais uma forma de cuidar de si próprio.




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