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A saúde mental à distância de um clique

Celebrar o Dia Mundial da Saúde Mental é muito mais do que recordar uma data. É um convite à consciência, à pausa e à responsabilidade coletiva perante o modo como vivemos, sentimos e cuidamos uns dos outros num tempo cada vez mais global e interligado. Hoje, mais do que nunca, habitamos um mundo onde tudo acontece em simultâneo. As fronteiras da geografia dissolvem-se nas fronteiras do ecrã. Vemos e ouvimos, em tempo real, a alegria e a dor, o nascimento e a destruição, a esperança e a catástrofe.


O desenvolvimento tecnológico, que nos aproxima e nos informa, também nos expõe e fragiliza. Cada acontecimento do mundo parece agora acontecer dentro das nossas casas e, de certa forma, dentro de nós. As imagens de guerra, os desastres naturais, as crises humanitárias e as emergências globais entram pelos dispositivos que transportamos no bolso. Esta exposição constante pode amplificar a ansiedade, a sensação de impotência e o sofrimento psíquico, sobretudo em quem já vive com maior vulnerabilidade emocional.


As pessoas que enfrentam dificuldades na regulação do uso das tecnologias com ligação à internet são, muitas vezes, as que mais sofrem com esta sobrecarga emocional. A ansiedade e a depressão tendem a intensificar-se quando o mundo parece sempre em alerta. O recurso excessivo aos videojogos, às apostas online ou à visualização compulsiva de pornografia torna-se, nestes casos, uma tentativa de regulação do desconforto interno, um modo de fugir ao ruído exterior e à inquietação interior. Porém, quanto mais se procura escapar, mais o ciclo se repete.


Também o fenómeno do cyberbullying surge como um reflexo da nossa presença digital contínua. Muitos são vítimas, outros são espectadores silenciosos, sem proteção adequada, sem literacia digital suficiente para compreender o impacto das suas ações ou da sua passividade. O algoritmo não distingue empatia de indiferença. Alimenta-se apenas de interação, de cliques, de tempo de atenção. Por isso, educar para o uso consciente e ético das tecnologias é, hoje, uma forma de cuidar da saúde mental coletiva.


Neste dia, importa lembrar que o progresso tecnológico deve caminhar lado a lado com o progresso humano. A mente precisa de espaço, de silêncio, de limites. Cuidar da saúde mental significa também cuidar da nossa relação com o digital, reconhecer quando a conexão deixa de ser ponte e se torna prisão.


A saúde mental não é apenas a ausência de doença, é a presença de equilíbrio, de sentido e de humanidade. Que este dia nos inspire a olhar para os outros e para nós próprios com mais atenção e compaixão. Que possamos usar a tecnologia como ferramenta de encontro e conhecimento, não como refúgio daquilo que sentimos. Porque cuidar da mente é, também, cuidar do modo como habitamos o mundo.


Pedro Rodrigues - Psicólogo clínico

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