Dia Escolar da Não Violência e da Paz ou uma crónica sobre o tanto que ainda há por fazer
- mariusveloso
- 30 de jan.
- 3 min de leitura
Celebramos hoje, dia 30 de Janeiro, mais uma efeméride sobre o combate à violência escolar. Ironicamente esta celebração surge no rescaldo de mais uma notícia sobre violência numa escola (um caso de Bullying) que chegou à comunicação social. Mais uma. Outra. E o silêncio que fica quando passa a espuma dos dias. Aquele silêncio que devia incomodar e que talvez já não o faça como deveria fazer.
Assistimos a mais um caso de agressão no recinto escolar e com ele vimos a vítima (não importa o diagnóstico, já que a agressão não se cinge apenas a "rótulos"), um agressor, espectadores e telemóveis para documentar o ocorrido. Se, por um lado, poderá ser uma forma de recolha de evidência de agressão, por outro lado a sua difusão e partilha poderá ser uma forma de revitimizar quem foi agredido (por esse motivo, não escolhemos uma imagem do sucedido). Preocupa-nos bem mais esta última, porque parece ser assumido, de um modo implícito, um papel de cúmplice da e na agressão.
A aposta na prevenção e na implementação de estratégias de combate a comportamentos de bullying e cyberbullying deve estar na ordem do dia sempre e não apenas quando, de modo cíclico, surgem notícias que nos fazem voltar a entrar em contacto com esta realidade. Trabalhar a montante e não apenas de forma reactiva poderá dar mais e melhores frutos, mas para isso devemos estar continuamente alertas para esta realidade.
Mas o que deve ser feito?
Em primeiro lugar, acolher de forma empática o sofrimento da vítima, reforçar positivamente a coragem por denunciar (seja o próprio ou outras pessoas) e procurar tranquilizar dizendo que serão tomadas medidas.
De seguida, dirigir-se à direção da escola/agrupamento de escolas/outro local e averiguar se há conhecimento do que se está a passar. Caso tal não exista, reportar a situação junto dos seus responsáveis, apresentando queixa por escrito (via email ou diretamente junto dos responsáveis). Salientar a importância desta queixa ser efectuada por escrito e não apenas por relato oral, uma vez que existe a obrigatoriedade das direções dos agrupamentos de escolas registem todas as situações de bullying e cyberbullying que tenham conhecimento. O registo é da estrita competência da direcção de cada agrupamento escolar e deverá ser feita na plataforma da Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEstE - https://www.dgeste.mec.pt/sise/).
Temos direito a exigir que sejam tomadas medidas para mitigar a existência de comportamentos agressivos e saber quais as medidas contempladas no regulamento interno da instituição que visam ser uma resposta, medidas essas que devem claras e que refiram quais as consequências para os autores da agressão.
Por último importa referir ainda a importância do apoio psicológico dirigido tanto a agressores como a vítimas, uma vez que o desajustamento e o sofrimento psicológicos são transversais a ambos os elementos envolvidos no acto de agressão.
Que esta efeméride não seja apenas mais uma data no calendário. Que esta notícia não seja mais uma notícia. Que a inacção de quem assistiu ao vivo e em diferido nos meios de comunicação social não seja apenas mais uma inacção. Que o silêncio não seja apenas conivência e cumplicidade com o agressor. Que a vítima não seja apenas mais uma para a estatística. Que o diagnóstico não seja apenas mais um elemento diferenciador e o cerne da notícia. Que possamos fazer mais. Hoje. Amanhã…e todos os dias antes que esta memória se dilua uma vez mais.
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